sexta-feira, 15 de junho de 2012

Prever o imprevisto

De que serve aquele maravilhoso trabalho de logística, se a sua carga fica parada no vagão do trem por algumas semanas, até que alguém conserte a ponte que caiu? Pois é, a Logística perfeita precisa não só definir o melhor caminho, com base nas opções existentes, balanceando tempos e custos, mas também ter uma solução alternativa pronta – um "Plano B" – para uso quando os imprevistos acontecem. Aliás, tanto vendedor como comprador precisam ter alternativas, pois uma indústria também não pode ficar com sua linha de montagem parada porque um fornecimento "just-in-time" foi paralisado por um acidente na estrada. Imprevistos acontecem, sim, mas faz parte do processo prevê-los, por mais paradoxal que isso possa parecer.
Para prever imprevistos, é preciso ter amplo conhecimento de todas as alternativas, e informações sobre tudo o que pode dar errado, e para cada situação o profissional tem de ter a melhor opção pronta para uso. Sim, a melhor, pois mesmo numa situação de emergência os clientes dos serviços de logística – produtor, transportador, comprador – esperam que sejam adotados procedimentos que minimizem o prejuízo e maximizem a eficiência do transporte.
Falando claro, se quero transportar cimento entre dois países, normalmente escolho uma combinação de meios de transporte com baixo custo (para não impactar muito no custo final do cimento, que é necessariamente baixo) e rapidez razoável para que o cliente final possa construir seus prédios. Se por qualquer motivo o navio designado cancelou a escala, não posso como Plano B colocar o cimento num avião, pois o custo do transporte se tornaria maior que o apresentado pelo produto no local de embarque.
Já no caso do transporte de uma peça de substituição para um carro de corrida que disputará um prêmio no próximo domingo, o defeito no avião originalmente designado para o transporte provavelmente não poderá ser resolvido por um Plano B de transporte rodoviário – a peça chegaria tarde demais, mesmo que talvez a um custo bem menor de transporte.
Num caso assim, a alternativa será usar outra companhia aérea, ou uma peça fornecida por outro país – e não há muito tempo para pensar no que fazer se estamos numa tarde de sábado, e faltam poucas horas para a corrida começar. É preciso ter investigado previamente essas alternativas, até mesmo mantendo prontidão para acioná-las se houver necessidade.
E não basta saber que alternativas existem. É preciso ter informação atualizada, pois o Plano B tende bastante a falhar, se estiver atualizado. Aquela empresa que, durante o ano inteiro, manteve um veículo de plantão para suprir falhas dos outros, justamente naquele fatídico único dia do ano havia levado tal veículo à oficina, para a manutenção anual...
Conforme o caso, além de ter a alternativa "B" pronta para uso, é bom pensar também num "Plano C" otimizado. Afinal, funciona muito nesses casos a famosa "Lei de Murphy": se você já previu e se preparou para TODAS as possibilidades de falhas, então provavelmente o seu trabalho falhará devido a uma possibilidade que você NÃO previu...
Carlos Pimentel Mendes
Porto Gente

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Paradas provocam perdas de R$ 20 milhões desde 2010 em Rio Grande

Podem passar de R$ 20 milhões os prejuízos nos últimos dois anos e meio no Porto de Rio Grande por conta da paralisação das atividades. Somadas as horas paradas, chega a 76 o número de dias em que algum motivo impossibilita manobras dos navios por condições climáticas. O cálculo das perdas de proprietários de cargas ou armadores (empresas responsáveis pelo transporte) é estimado pelo Sindicato das Agências de Navegação (Sindanave). O valor é apenas estimado porque, pela diferença no movimento do porto conforme a época do ano, é impossível precisar o prejuízo de um dia sem atividades. Em períodos de safra de grãos, por exemplo, há mais navios. Fora dessa temporada, a frequência diminui.
Assim, o cálculo é feito com base no número de embarcações que passam anualmente no porto, estimando que de oito a 10 navios operem nas águas gaúchas diariamente. Pela variedade de cargas, estipular o preço de uma embarcação parada fica ainda mais difícil. Mesmo assim, o custo de cada dia de navio inativo é estimado entre R$ 70 e R$ 80 mil. Por isso, com os 76 dias, passaria de R$ 20 milhões a perda de armadores e proprietários de carga.
– Dependendo do material que deveria ser descarregado, qualquer atraso causa uma reação em cadeia, que aumentaria ainda mais esse valor – comenta o presidente do Sindanave, Eduardo Adamczyk.
Mesmo com os eventuais problemas, porém, o porto gaúcho segue como melhor destino para carga e descarga, na opinião de Adamczyk. Eventuais fechamentos são compensados por calado, armazéns e velocidade de operações, condições que o dirigente considera melhores do que as de Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro. Essas condições garantem a Rio Grande o posto de segundo mais importante em cargas do Brasil.
– Seria necessário que o porto investisse em estruturas mais modernas para evitar cancelamentos de operações. Há boias inteligentes, que sinalizam o canal e garantem a navegabilidade, por exemplo. É preciso garantir operações 24 horas por dia. Assim, o porto seria altamente competitivo – adverte Adamczyk.
Um investimento está previsto para tentar reduzir o número de horas paradas em Rio Grande. O porto será contemplado, nos próximos meses, com o Sistema de Gerenciamento de Tráfego de Navios (VTMS, na sigla em inglês). O projeto irá monitorar o tráfego hidroviário, rastreando toda a área do porto organizado. O plano é da Secretaria Especial dos Portos, que contratou a empresa americana Unisys (referência em tecnologia da informação) para a elaboração.
O objetivo é atacar diretamente o congestionamento de navios nos portos brasileiros e as dificuldades relacionadas à entrada e saída de embarcações e cargas pelo mar. No ano passado, a Unisys finalizou os trabalhos do projeto Carga Inteligente, que oferecerá monitoramento e aumentará a segurança do transporte.
Será possível, com esse procedimento, reduzir o tempo de espera dos navios que estão fora dos portos, além de integrar os departamentos responsáveis pelo monitoramento dos navios e facilitar a troca de informações, levando a uma navegação segura. Tudo isso será realizado por um sistema de radar e Identificação Automática (AIS), responsável por realizar toda a varredura no porto. Salvador (BA), Rio de Janeiro e Itaguaí (RJ) também serão contemplados.
Em 2012, até o momento o tempo tem ajudado. Foram apenas cinco dias de paralisação, sendo quatro por baixa visibilidade e uma por ondas grandes e ventos fortes. Pela posição geográfica, Rio Grande é mais suscetível a intempéries do que os demais portos brasileiros. Como está em uma zona sub-tropical, fica mais sujeito à exposição de ventos fortes, chuva intensa (que diminui a visibilidade) e aumento da força da correnteza. Assim, o fechamento do porto gaúcho é mais comum do que dos demais brasileiros.
Fonte: Zero Hora